A Igreja conclama os jovens a usar a internet com discernimento e atenção.
Não faz muito tempo que encontrei o
documento “A Igreja e a Internet”, publicado pelo Pontifício Conselho
para as Comunicações Sociais nada menos que em 2002! Eu o
considero um documento imprescindível para se entender a postura da
Igreja diante da realidade da rede mundial de computadores e das redes
sociais. Depois, é verdade, o papa Bento XVI e agora Francisco deram uma continuidade intensa a este assunto.
Não vou focar em muitos dos pontos do
documento. Há muito ali que vale a pena! Mas quero dedicar hoje algumas
linhas à sua parte final, às recomendações aos dirigentes eclesiais, aos
agentes pastorais, aos catequistas e educadores, aos pais e,
finalmente, aos jovens e crianças. É nestes últimos que eu quero
concentrar a minha atenção.
A Igreja é muito clara com os jovens e com os seus formadores quanto à internet e às redes sociais:
“A internet põe ao alcance dos jovens, numa idade inusualmente precoce,
uma imensa capacidade de fazer o bem ou o mal, a si mesmos e aos
outros”.
A Igreja conclama os jovens a usar a
internet adequadamente, a se enriquecerem com ela e a enriquecer a vida
de outros, a se prepararem com responsabilidade para o seu futuro e a
usá-la como meio privilegiado para fazer o bem. Não só isso: a
Igreja chama os jovens a irem contra a corrente, a exercerem a
contracultura e a se prepararem para ser perseguidos por defender o que é
verdadeiro e bom também nesse meio de comunicação. A abordagem é forte.
O que a Igreja pede não é automático.
Precisa de discernimento, educação, formação e também da força do
Espírito. Este último requisito só pode ser pedido incessantemente na
oração e na prática de uma vida cristã plena, em comunidade e
participando-se dos sacramentos. Os demais requisitos requerem apenas
determinação e mãos à obra.
Discernimento:
nossos jovens devem saber discernir o que é bom e o que é mau, o que
lhes convém e o que não convém. Discernir quais fotos compartilhar, que
mensagens publicar. Discernir o que retuitar e a quem seguir. Discernir
que sites visitar. Discernir quando falar e quando calar.
Discernir a sua tarefa concreta como cristãos na rede, seu chamado
particular, sua missão. Discernir o que Jesus Cristo faria em cada
situação que surge. Essa tarefa exige aprendizagem, escuta e silêncio.
Para discernir, é preciso ter aprendido previamente a fazê-lo. Por isso é
necessária a nossa ajuda. Educadores, pais e catequistas precisam
acompanhar os jovens, viver perto deles o ato de “estar” na internet e
nas redes sociais, além de ajudá-los a fazer o mesmo fora da internet e a
transformar o discernimento em uma constante na vida.
Educação: antes,
nossos pais nos ensinavam como nos comportar e agir na rua, no colégio,
em casa… Não falar com estranhos, que situações evitar, como respeitar
os mais velhos, a autoridade… Agora, tudo isto continua sendo feito
(quando é feito), mas ainda não encaramos devidamente a questão da rede.
Quem educa para estar na rede? Quem explica aos jovens e às crianças
com quem relacionar-se? Quem fala da amizade nas redes e conhece os
amigos dos nossos jovens nas redes? Quem ensina a eles como agir em caso
de ataque, como defender o mais frágil, como levantar a mão quando
necessário? Há uma lacuna a ser preenchida de forma urgente. E é
imprescindível, para isso, que pais, educadores e catequistas se portem
na rede com soltura, entendendo os seus recursos.
Formação:
a internet é um “lugar” com uma potencialidade enorme. É preciso
conhecê-lo. Não basta estar: é preciso conhecer o seu funcionamento,
suas regras, as leis que a regulam, as implicações de um deslize, os
detalhes da privacidade, as marcas que são deixadas quando se navega
pelos seus labirintos… Nossos jovens só serão boas testemunhas do
evangelho se forem prudentes como serpentes e simples como as pombas.
Não basta apenas a boa vontade, a ingenuidade. Quando um jovem quer
dirigir, ele recorre à autoescola. Quando queremos trabalhar, passamos
pela formação profissional. Não pode ser diferente aqui. E já que esta
formação para a rede, por enquanto, não é abordada nos programas normais
de estudo, é necessário sermos audazes e fazermos propostas criativas
para formar os nossos.
A internet é uma tarefa e uma missão para todos. A Igreja nos pede presença, e presença como católicos. Não
basta compartilhar frases bonitas no Facebook ou tuitar versículos do
salmo do dia. Não basta querer estar. Se não se sabe discernir e não se
está formado, não se é um cristão útil. A rede nos devorará.
Não podemos abandonar os jovens neste
caminho difícil. Abandoná-los seria claudicar e não seguir as diretrizes
da Igreja. Como disse um dia o papa Paulo VI, cada um deverá responder
diante de Deus pelas suas ações também nos meios de comunicação. Sejamos
valentes. Não temos desculpas.
* Autor: Santiago Casanova Miralles é leigo esculápio e membro da equipe iMissão.
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